Assistência Estudantil do CEFET/MG: longa trajetória em defesa da Educação pública, democrática e inclusiva, ameaçada

Por Márcia Feres*.

Há quatro dias, desde que recebi o comunicado anexo (clique aqui para acessar), venho buscando palavras que exprimam, não minha surpresa, porque de fato não me surpreende, mas minha indignação e minha veemente repulsa. Confesso que não encontrei nada que fosse suficiente e publicável.

Apesar disso, não posso me furtar a registrar essa “página infeliz da nossa História”. Em tempos onde absurdos impensáveis nos atropelam diariamente ao ponto de nos tirar o ar – agora não mais como metáfora, os absurdos que se reproduzem perto de nós e que envolvem a nossa trajetória, nos impactam de modo diferenciado.

Nesses quatro dias muitas e solitárias avaliações, comparações, mas sobretudo lembranças, me vieram. Muito o que contar, o que registrar e analisar. Mas isso fica para outra oportunidade.

Neste momento preciso me dirigir às pessoas. Preciso falar com quem acompanhou essa trajetória de mais de meio século, quer apoiando, quer nos tantos e necessários embates; quer construindo juntos, quer sofrendo os inúmeros reveses. Àqueles que não tiveram a oportunidade de usufruir das conquistas, mas nem por isso se abstiveram de reivindicá-las para o futuro. Futuro esse que chegou para tantos estudantes e profissionais nos mais diferentes lugares. Falar com dirigentes e profissionais de todo o Brasil com quem tanto trocamos e contribuímos para se pensar em uma política nacional e práticas que assegurem o direito, especialmente, de estudantes pobres, pretos/pretas e periféricos, à permanência em Instituições de Educação Públicas de qualidade.

Quero me dirigir de forma muito especial a uma equipe de profissionais da qual tenho enorme orgulho de haver pertencido! Equipe que vi crescer em número e em qualidade técnica, mas sobretudo em consciência e compromisso ético. A ela quero lembrar o que os anos e a experiência me mostraram. Aprendi que, para o mal e para o bem, os governos passam, assim como as gestões. Superarmos a ditadura dos anos 80, o desmonte neoliberal dos 90, nos anos 2.000 crescemos e implementamos uma política institucional de Assistência Estudantil inclusiva e democrática, uma gestão horizontal e integrada, única na Instituição e, ouso dizer, fora dela também. Mais do que uma Política Institucional, imprimimos nosso projeto de Educação, nosso projeto de País. Projetos esses que agora estão seriamente ameaçados.

A década de 20 desse século certamente será um marco e um grande desafio para o qual devemos nos preparar. Vivemos tempos de posicionamentos e decisões limítrofes, onde a metáfora das máscaras mostram mais do que escondem. E é exatamente neste momento que somos cobrados a nos posicionarmos de que lado da História estaremos. E uma vez mais essa equipe me orgulha! Pois nas adversidades são postas à prova as convicções, a ética, a prevalência do projeto coletivo aos projetos pessoais. Não há perdedores para quem fez a escolha de estar do lado certo da História! Mulheres em sua maioria, mas também composta por homens especiais, esta equipe já aprendeu a espera ativa, a tecer, construir pontes e trincheiras, a ser fênix! E sabe o valor dessa construção coletiva, de colar os ouvidos no chão da Escola e ouvir os passos do que está por vir. De se realimentar na energia renovadora dos/das estudantes!

Vai passar. Acreditem! Pode ser um difícil recomeço, à partir de escombros e à custa de suor e lágrimas, muitas perdas pelo caminho, sobretudo para estudantes, algum adoecimento, urticárias e gastrites. Mas vai passar!

Aos que se acham os intocáveis do presente, protegidos por um poder ilusório e fulgaz, a História lhes reserva um lugar, pé de página, pelos seus desfeitos.

*Márcia Cristina Feres – Assistente Social, Ex Secretária de Política Estudantil do CEFET/MG, Ex Vice-Coordenadora do FONAPRACE ( Forum Nacional de Pró Reitores de Assuntos Estudantis)

Belo Horizonte, julho/2020.