Relato jornalístico do professor Fábio Luiz Tezini Crocco sobre debate de análise de conjuntura realizado na Unidade Nepomuceno no dia 24 de maio de 2016
CRISE! O BRASIL EM DEBATE
Por Fábio Luiz Tezini Crocco*
No dia 24 de maio ocorreu no CEFET-MG, Unidade de Nepomuceno, um debate de análise de conjuntura cuja intenção foi discutir o atual cenário político e econômico do Brasil. Em meio a escândalos políticos, impeachment e crise econômica tornou-se imprescindível refletir criticamente sobre as condições e contradições da atualidade brasileira.
O evento foi organizado a partir de diálogos entre representantes do SINDCEFET-MG, dos professores e do Grêmio Estudantil. O debate foi suscitado pelas análises do presidente do sindicato, Antônio Arapiraca, do professor Alex Fogal e da representante do Grêmio Alexsânia Vitória. Cada um expôs brevemente um panorama sobre a situação atual do país de forma didática e acessível aos presentes e, posteriormente, os ouvintes foram convidados ao debate e contribuíram com perguntas e reflexões.
Dentre as questões apresentadas pela Alexsânia, estavam a crise econômica e o perigo do desincentivo das políticas públicas sociais que na última década ajudaram a diminuir a desigualdade social e de renda no país. Conforme relatou a representante do Grêmio, “debates como este são de extrema importância no âmbito escolar, pois fazem com que os alunos tenham um olhar mais crítico da situação ocorrida em nosso país, conheçam a verdade, ou pelo menos mais de um lado da história. Diante de nossa atual conjuntura, muitos de nós nos encontramos preocupados com nossa percepção acerca dos ocorridos e com nossa dificuldade de discorrer sobre as questões políticas e econômicas que ocasionaram tamanha insatisfação popular e agitação social. O debate e as discussões ampliaram nosso campo de conhecimento sobre o assunto, o que ajudou na reorganização de ideias e até mesmo na formação de opiniões. Como já dizia Aristóteles, ‘somos competentes à medida que nos preparamos bem, e construímos nossas virtudes pelo hábito’, e o CEFET-MG, através de atividades como esta tem nos proporcionado esse preparo. Em nome dos alunos, só tenho a agradecer”.
Arapiraca teceu de forma abrangente o panorama político e econômico do país, e mesmo sem poupar críticas ao governo do PT, questionou o golpe político impetrado pelos partidos de direita. Segundo o professor e sindicalista, o golpe avança por meio de artimanhas ditas legais e constitucionais, que apesar da falta de clareza e unanimidade sobre a existência ou não de crime de responsabilidade administrativa, está conseguindo afastar uma presidenta democraticamente eleita. Nesse sentido, foi demonstrada a grande preocupação com tais atos, pois representam um atentado à democracia e recoloca no poder os interesses de uma pequena elite detentora de riqueza, ou seja, reestabelece a plutocracia. Segundo Arapiraca, “é muito importante neste momento de crise politica e econômica que o Brasil atravessa, que criemos espaços de debates, de informação de questionamento na comunidade cefetiana, sobretudo para a juventude. É preciso esclarecer sobre os perigos que vivemos e que a democracia no país corre sérios riscos na medida em que grupos políticos se apropriam do poder sem terem sido votados para tal se utilizando de subterfúgios jurídicos. É preciso alertar também que junto com tudo isto estamos vendo uma série de conquistas dos trabalhadores e da sociedade brasileira caírem por terra para que interesses de grupos econômicos sejam atendidos”.
Por fim, tivemos as reflexões do professor Alex Fogal que iniciou sua fala refletindo sobre o conceito de política e república que conforme Aristóteles aproxima-se da ideia de bem comum. Explanou ainda, que diante de todos os escândalos políticos e do golpe à democracia vivenciado hoje, cada vez mais nos afastamos desse ideal político do bem coletivo para satisfazer interesses particulares e escusos. Dentre outras questões pontuadas, o professor afirmou a necessidade de uma política crítica e realista que possa avançar contra o privatismo, a desigualdade e os interesses elitistas a partir de ações concretas e possíveis. Sobre a importância do evento o professor afirmou: “O debate sobre a atual conjuntura política e social do Brasil, ocorrido há duas semanas atrás, não necessita de ter sua relevância defendida, uma vez que a situação do cenário nacional já legitima eventos desse tipo. Entretanto, para além disso, iniciativas assim ajudam a delinear um espaço de discussão e reflexão em nosso local de trabalho, fortalecendo seu caráter de instituição pública. Contamos com as presenças do professor Antônio Arapiraca, do campus I, e a aluna Alexsânia, da unidade de Nepomuceno. Ambos realizaram falas lúcidas e esclarecedoras com as quais tive o prazer de dialogar. Algo que também merece destaque é o número de participantes. Os alunos compareceram de modo expressivo e alguns professores e técnicos-administrativos também estiveram presentes, o que tornou a discussão mais ampla e matizada. Talvez, o grande ganho tenha sido demonstrar que pontos de vista contrários podem ser expostos dentro de um mesmo espaço, permitindo aos debatedores colocarem à prova a solidez de seus argumentos e princípios ideológicos. Contrariando o dito popular, parece ter ficado claro que política se discute, sim”.
Assim, a Unidade de Nepomuceno presenciou uma tarde permeada de análises, reflexões e críticas sobre o processo político e econômico que o país atravessa. E é consenso entre os participantes que esses encontros e debates devem ser estimulados, pois propiciam um ambiente de reflexão e de troca de experiências sobre assuntos que muitas vezes não são devidamente abordados no ambiente escolar.
*Fábio Luiz Tezini Crocco é doutor em Ciências Sociais pela UNESP na linha de pesquisa Determinações do mundo do Trabalho e professor de Sociologia e Filosofia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG Campus de Nepomuceno). É coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho, Cultura e Materialismo.